sábado, 21 de junho de 2008

O dia em que o Rafa virou o bandido...

O texto abaixo foi enviado pelo amigo e colega de profissão Rafael Guzzo... a história é boa e verídica, vale a pena conferir...

"Depois de seis dias de trabalho seguidos, uma folga. Logo na segunda-feira (ninguém merece!). Eram 6h da manhã, quando ouvi meu celular tocar. Sonolento, atendi o telefone e ouvi apenas quatro palavras: “Safado, golpista, sem vergonha!”. A pessoa desligou. Esse ritual se repetiu por um sem-número de vezes naquele dia. O motivo para tamanha perseguição: o número do meu telefone saiu estampado na quarta página do jornal A Tribuna como sendo o de um bandido que se diz do SBT e envia mensagens avisando sobre falsos prêmios. Logo eu, que não sou de trapacear nem jogando um baralhinho com os amigos.

Bem, melhor explicar como isso aconteceu pelo início de tudo. Sou repórter e, na terça-feira anterior à data fatídica, recebi a pauta da reportagem especial daquela semana. Um dia depois, já à noite, a pauta cai. O desespero tomou conta de mim e de minha editora, que conseguiu, às pressas, um novo tema para a especial: “Os 50 golpes mais praticados por bandidos”. Normalmente, o tempo de confecção de uma reportagem dessas é de pelo menos quatro dias. Eu tinha apenas dois. Preocupado, saí do trabalho e me sentei em um boteco para ver futebol pela TV e tentar relaxar. Mesmo assim, o problema não saía de minha cabeça: como fazer uma boa matéria em tão pouco tempo?

Foi nesse momento que algo “mágico” aconteceu. Recebi uma mensagem no celular e vi que se tratava de um golpe! Alguém que afirma ser do SBT diz que ganhei um CrossFox. Pronto, já tinha conseguido uma abertura de página para a matéria: “Até repórter é alvo de golpe”. Comemorei o fato como se fosse um gol do meu time.

No outro dia, liguei para o golpista fingindo ser um patinho que caiu na armação. Perfeito, consegui registrar um diálogo bem bacana e mostrar como agem esses bandidos. “Quem ler a minha reportagem não cai nessa jamais”, pensei. Para completar, só precisava tirar uma foto da tal mensagem no celular. Foi aí que o problema começou.

Meu telefone é velho, horroroso, tem uma mancha ridícula no display. Não dava para pôr uma imagem dele no jornal. A solução foi simples: mandei a tal mensagem para o celular do fotógrafo – novinho e bonitinho. Tudo ok, missão cumprida.

Bem, voltando àquela segunda-feira em que virei um golpista, depois de atender o décimo telefonema, resolvo me levantar da cama e ler o jornal, ritual sagrado para mim. Quando leio minha matéria... bingo! Na foto da mensagem no telefone, está lá o número de quem a enviou, ou seja, o meu. Incrédulo com o vacilo que dei... ou melhor, demos (afinal nem eu nem os dois editores que viram a imagem prestaram atenção naquilo), senti na pele o poder da mídia e o drama de ser citado de forma negativa em um jornal.

Mas, embora embaraçosa e constrangedora, a experiência foi útil. Ela me fez refletir e pensar na grande responsabilidade que nós, jornalistas, temos em nossas mãos. É uma pena que em nossa dura rotina diária não tenhamos mais tempo para refletir melhor sobre o nosso trabalho, mas não podemos nos dar ao luxo de cometer erros ao falar da conduta de alguém. O resultado pode ser devastador".

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