Descaso

Um misto de revolta, dor e tristeza tomou conta dos moradores de Padre Gabriel, em Cariacica, comovidos com o caso de três crianças - de 9, 10 e 11 anos - do bairro. A mãe delas morreu na manhã de ontem, mas o corpo só foi removido no final da tarde, depois de um verdadeiro jogo de empurra entre os órgãos públicos.

Lourdes Monteiro de Jesus, de 43 anos, morreu de cirrose, por volta das 9 horas. De acordo com o conselheiro tutelar do município, Fagner Costa, na última segunda-feira o Conselho recebeu uma denúncia que as crianças estariam sozinhas cuidando da mãe doente.“Fomos até lá ver a situação. A mãe estava em fase terminal. As próprias crianças que cozinhavam, limpavam a casa e davam banho nela. Vimos que se tirássemos os filhos dela naquele momento estaríamos assinando seu atestado de óbito. Conseguimos uma remoção para hoje, mas quando voltamos à casa, ela já havia morrido”, contou Costa.

A vizinhança se mobilizou para que Lourdes fosse enterrada de forma digna. Mas precisou apelar para um vereador. Assim, a remoção do corpo aconteceu às 17h15. “Ligamos para tudo quanto é órgão, até para o Hospital Infantil. E todos diziam que não podiam fazer nada. Essa mulher ficou jogada que nem um cachorro sarnento. Isso não se faz”, queixou-se a doméstica Maria do Carmo Spíndola, revoltada.As crianças, que já haviam perdido o pai há quatro anos, foram levadas para a Casa da Acolhida da Prefeitura de Cariacica.

A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) informou que todas as prefeituras têm uma verba para ser utilizada para auxílio-funeral, em situações como a da família de Lourdes Monteiro de Jesus. Porém, a assessoria de imprensa da Prefeitura de Cariacica ressaltou que não é de competência dela recolher cadáveres. Outro fato colocado pela prefeitura é que o convênio que eles tinham com uma funerária venceu, por isso a demora para atender ao caso de ontem, registrado no bairro Pader Gabriel. A Sesa contou, ainda, que está em fase de licitação a compra de um rabecão para a secretaria.